2010-09-30

Esbanjar e poupar


"A alegria do que nos alegrou dura pouco. A dor do que nos doeu dura muito mais. Vê se consegues poupar a alegria e esbanjares o que te dói. Vive aquela intensamente e moderadamente. E atira a outra ao caixote." - Vergílio Ferreira

Estava a passar os olhos por umas citações (para quem ainda não se apercebeu, sou um grande fã) e parei nesta. Pus-me a pensar no que leva uma pessoa a querer olhar para uma alegria já extinta e apenas imaginada, como forma de suprir uma dor actual e real.

O raciocínio levou-me a um conjunto de conversas que tive com três grandes amigos (sem saber o que cada um me dizia, todos me disseram o mesmo. Deus sabe o que faz...) e todos destacavam o seguinte ponto: em finais de relações, ou quando a coisa já anda pendurada por um fio - ou pelas frágeis fibras que compõem o dito fio -, tendemos a querer segurar a imagem, o instantâneo de alguém que ficou lá atrás, fixo no tempo.
E o erro é este: "Tu gostas de alguém que já não existe. A pessoa de quem gostas, não é a pessoa que está, actualmente, ao teu lado".

E é neste instante, em que a percepção de um fim próximo nos atinge em pleno na face (até lá, tudo está sempre secundado pela confortante e ingénua ideia "as coisas vão melhorar"), que eu entendo que começa a fazer sentido a "dor que nos doeu dura muito mais".

Há, no entanto, outros factores que jogam sempre nestes casos. O da lealdade (moral, entenda-se), do respeito, do empenho, da confiança, da verdade...
Quando comecei este blog, saíra há pouco tempo de uma namoro prolongado e que no fim, de namoro já pouco tinha. Curioso como a história teima em repetir-se... Felizmente, o que na altura escrevi, e que assumo por completo, foi já devidamente esclarecido com quem de direito. E hoje, sem querer entrar em grandes presunções, posso dizer que estamos não só em bons termos como até num certo "à vontade".

E isto deixa-me, de certa forma, contente. Porque significa que num futuro algures lá adiante, o normalizar do que hoje é claramente anormal, é possível. A questão, agora, é saber se eu vou querer que seja possível...

Para já, vou preocupar-me em tentar alinhar pelo resto da frase do Vergílio Ferreira: "Vê se consegues poupar a alegria e esbanjares o que te dói. Vive aquela intensamente e moderadamente. E atira a outra ao caixote." Valem-me os amigos, os de sempre e aqueles que Deus teve o cuidado de introduzir na minha vida. Gente que olha e avalia, sem que tenha de explicar ou dizer o que seja. Gente que julga o que sou e não o que alguém diz que eu sou...

E espero esbanjar parte da alegria, que vou recuperando aos poucos, entre uma ou outra descida aos poços da tristeza, já este fim-de-semana, em Viseu.
Com gente que me ama, simplesmente pelo que sou...


"A lealdade e o respeito são uma forma de vida"


Aniki

1 Comments:

Blogger Joaninha disse...

Não podia deixar de comentar este teu texto Tiago. Tens um dom de brincar com as palavras e dizer as coisas claras e discretas ao mesmo tempo. Fico desde já tua fã do blog ;) Consegues nos fazer ver que não somos os unicos que através da escrita recuperamos de muita coisa e que deitamos fora o que nos faz mal! Continua sempre a escrever, um dia irás perceber que isso é importante. Beijinhos*

3/10/10 01:44  

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