2013-07-31

Tarde de praia perfeita

Há uns anos largos que não se via tarde de praia tão perfeita. Da última vez, o café ainda estava aberto e o areal junto às escadas ainda permitia estender a toalha. Tardes passadas a ver "baleias" ao largo, a dormitar com pausas a cada 30 minutos para virar e garantir que o bronze era uniforme. Outros tempos, outras realidades, outros rostos...

"É que há uns anos largos que não se via tarde de praia tão perfeita", soltou ele por entre dentes. Espreguiçando-se como que a convidar um pouco de ar fresco a entrar e arejar-lhe a alma, veio-lhe o cheiro de água salgada, areia molhada e o aroma inconfundível do protector solar (Nívea Sun, factor 20). E como que rebobinando um rolo de filme, ele foi enumerando: Comporta, Tróia, Carcavelos, Guincho, Aguda, Matosinhos, Beijinhos, Sacor... Em todos as paragens, o mesmo cheiro, as mesmas sensações. Outros tempos, outras realidades, outros rostos...

Mas, há uns anos largos que não se via tarde de praia tão perfeita. Olhando para o invulgar azul claro das ondas, ele não podia deixar de recordar a última vez que ali estivera e que o mar apresentara-se nas mesmas tonalidades. Hoje, de pés enterrados na areia molhada e mãos à cintura, sentindo onda após onda a quebrar nas suas canelas. Antes, estendido na toalha, Moleskine numa mão e caneta na outra, a alinhavar nomes atrás de nomes. Outro tempo, outra realidade, outro rosto...

De facto, há uns anos largos que não se via tarde de praia tão perfeita. Mas mais do que as condições meteorológicas, era o estado (de alma, de vida, de ânimo...) que faziam daquela tarde perfeita. Não hoje, mas a última. Quando o mar também estava estranhamente azul, com o cheiro de protector a pairar rente à toalha, quando a caneta registava no Moleskine os nomes que teriam de estar, deveriam estar e que eram dispensáveis.
Outro tempo. Mais feliz.
Outra realidade. Mais agradável.
Outro rosto. Aquele que tanta saudade provocava...

"A lealdade e o respeito são uma forma de vida."
Aniki