2013-07-23

Diálogo

Parado a olhar as ondas a quebrar junto à praia, ele pensava em tudo o que já vivera até ali. Dois dias já quase completos e uma terceira noite. Mais uma em que seria seguramente esmagado sob o peso de uma cabeça a andar em alta rotação. "Descanso", pensou ele, "isto é que era bom..."

Como poderia ele descansar quando o fechar de olhos implicava um desfilar sem fim de imagens de tempos outros, de construções da sua própria mente e, porque não dizê-lo, de sonhos que o faziam despertar quase que de hora a hora? E ali estava ele, olhos fitos na água, a tentar perceber como ter mais do que um sono fugido.

BAM! Bola nas costas. "Manda isto para cá se faz favor". Sem perder tempo, um sorriso no rosto e um "tem lá cuidado com isto para não acertares em mais pessoas". Não se vá dar a ideia de que algo não está como se quer ou como se deseja. Mais uma laracha aqui e ali.

De volta ao mar. E uma vez mais a mente vagueia. Surge uma piscina insuflável, uma noite de fim de Verão, uma lavandaria, horas de conversa... Novo salto e já é início de Dezembro, um programa televisivo, um almoço não concretizado, uma conversa telefónica... Mais um salto e... BAM! "Desculpa outra vez. Foi sem querer. Mandas a bola?" E ele, com um que de exaspero na voz diz: "Eu não disse para que tivessem cuidado?"

É que com isto tudo, ver o mar não só é penoso, como vai se tornando doloroso. E além disso, se manter um raciocínio coerente já anda complexo, quanto mais fazê-lo com boladas na moleirinha...

- Onde ia eu?
- Queres mesmo saber? Se calhar a bolada veio em boa hora. Uma coisa é andar com sono, outra é andar com a cabeça atafulhada de saudade. 
- Mas com tanta coisa com que se preocupar, tanto a fazer, porque raios voltas tu constantemente a isto?
- Queres mesmo que te explique? Então vai assim:

saudade |au ou a-u|
(latim solitas, -atis, solidão)
s. f.
1. Lembrança grata de pessoa ausente ou de alguma coisa de que alguém se vê privado.
2. Pesar, mágoa que essa privação causa.

- Como é que dizias no outro dia?
- 'Adormeço em ti, querida Água de Madeiros, mas hoje as saudades não te pertencem'. É disto que falavas?
- Sabes, terá sido das frases mais inspiradas que tiveste nos últimos tempos. Vá,  devolve-lhe a bola. Está na hora de ir andando.

"A lealdade e o respeito são uma forma de vida."

1 Comments:

Anonymous Anónimo disse...

http://youtu.be/YzsykPk9imw

23/7/13 00:58  

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